terça-feira, 8 de julho de 2008

PRIORIZANDO O REINO DE DEUS


PRIORIZANDO O REINO DE DEUS
Tiago 4.1-4; Mt 6.33; 4.1


A análise conjunta desses textos nos mostrar a origem dos conflitos e da aflição humana. Sempre que decidimos viver a vida do nosso jeito, pondo nossos anseios e ambições acima da vontade de Deus, nossa vida entra em colapso.

– De onde vêm as lutas e brigas entre vocês?" – Pergunta Tiago. – Vêm dos maus desejos que estão lutando sempre dentro de vocês.

DOIS REINOS

Há duas maneiras de viver: a nossa e a de Deus. Há dois reinos o nosso e o de Deus. No reino de Deus há coerência, paz, equilíbrio. No nosso reino há confusão, perda de propósito, conflito e rebelião.

Por isso, ao iniciar o ministério a primeira providência de Jesus foi convocar as pessoas a mudarem de reinado.

Frank Matera diz, no seu livro Ética do Novo Testamento, que "o aspecto mais distintivo do ensinamento moral de Jesus é o reinado de Deus. Ele conclama as pessoas a arrependerem-se e crerem no evangelho de Deus, porque se completou o tempo de espera determinado por Deus, e o reinado de Deus já fez sua aparição, se bem que de maneira oculta.

Arrepender-se significa afastar-se do antigo modo de vida para abraçar novo modo de vida sob o reinar de Deus. Nesse novo modo de vida, a fé no evangelho ou boa nova de Deus referente ao reinado desempenha papel central. Essa fé, porém não é uma virtude entre outras; é a virtude oniabrangente pela qual a pessoa percebe a presença oculta do governo régio de Deus. As pessoas crêem para ver".
Ou, como comenta o pastor Ariovaldo Ramos, “a idéia exposta é que Deus vem para por a casa em ordem, vem para decretar o fim da rebelião.

A história que a Bíblia conta é a de uma rebelião contra Deus, aderida pela raça humana aderiu.

"Quando Cristo vem ao mundo, o faz para dar consecução ao processo de por fim à rebelião”.

No verso 33, de Mt 6, Jesus diz: “buscai, pois, em primeiro lugar o reino de Deus em suas vidas, e todas as outras coisas lhes serão acrescentadas”.

Dois detalhes a serem considerados:

1. Se há o reino de Deus, há outros reinos também. Se o reino tem que ser posto em primeiro lugar é porque muitas vezes elegemos outros “reinos” para nós.

2. O reino é buscado, é conquistado. É preciso querer o reino, desejar o reino, para ter o reino. A palavra “buscai” implica numa ação, numa disposição de nossa parte para vivermos a vida do reino.

Como e quando é que o Reino de Deus passa a ocupar o primeiro lugar nas nossas vidas?

A resposta está em Mt 4.17:

“Daí em diante Jesus começou a anunciar a sua mensagem. Ele dizia: - Arrependam-se dos seus pecados porque o Reino do Céu está perto!”.

De acordo com Jesus, o que os discípulos deveriam fazer para participar da vida do Reino? Arrependerem-se!

O reino não será prioridade na vida de nenhuma pessoa até que todos se arrependam. O problema é que a igreja de hoje não compreende muito bem o significado da palavra arrependimento. Ao longo dos tempos a religião tem dado a entender o arrependimento como sendo o atendimento a um apelo feito por um certo pregador, num culto dominical, e vir à frente chorando por causa dos seus pecados.

Mas não era bem isto o que passava pela mente de Jesus quando ele usou pela primeira vez a palavra a palavra “arrependei-vos”.

No original grego, a palavra para arrependimento é metanóia, isto é, mudar a maneira de pensar e de agir. Uma versão atual seria “firmar-se nos valores do Reino” ou “realinhar as nossas prioridades com as prioridades do Reino”. Aqui está a maior de todas as implicações relacionadas à vida no reino: que a nossa vida esteja alinhada com a vontade de Deus.

Na oração do Pai Nosso isto fica bem claro para todos nós. Depois de dizermos “Venha teu reino”, devemos dizer: “Seja feita a tua vontade”.

Jesus pôs as coisas nesta ordem para mostrar que “sobre a terra, o reino está presente no grau em que a vontade de Deus é feita e que as pessoas são obedientes ao que Deus lhes ordenara para fazer”.

E o resumo de tudo o que Deus quer que seja feito foi sintetizado por Jesus em: “amar a Deus com todo o nosso coração, com toda a nossa mente e com todas as nossas forças e também devemos amar os outros como amamos a nós mesmos” (Mc 12.33).

A igreja de Jesus é o único organismo neste mundo com condições de evidenciar o reino de Deus às pessoas, e isso ela o faz através da vida dos seus membros.

O MONTE E O VALE


O MONTE E O VALE
MATEUS 17.1-21


O MONTE E O VALE
Mateus 17.1-21

Mateus 17.1-21 é daqueles textos bíblicos repletos de ensinamentos e que nos oferece a chance de analisá-los por diversos ângulos. Nesta nova série, vamos analisá-lo pela ótica da espiritualidade.

Espiritualidade será o nosso assunto por alguns domingos. A leitura que vamos fazer da espiritualidade, no entanto, estará em permanente contraste com o que vamos chamar de pseudo-espiritualidade. Sim, porque se existe uma espiritualidade verdadeira, também existe uma falsa espiritualidade.

A IMPORTÂNCIA DO TEMA

Em nossos dias existe uma busca frenética por espiritualidade. A coisa é tão séria que depois do “racionalismo”, de Descartes, e da “inteligência emocional”, de Daniel Goleman, o tema recorrente nos dias atuais é “inteligência espiritual”.

No Brasil, tem crescido o número de empresas que contratam de teólogos a mães de santo, para discorrerem sobre o tema. Esse, no entanto, é o problema. Pois o que muitos estão chamando de “espiritualidade”, não passa de misticismo oco, desprovido de sentido e coerência.

Nesta série sobre espiritualidade e, especialmente, nesta nossa primeira conversa sobre o assunto, vamos tentar situar a espiritualidade “entre o monte e o vale”, conforme Mateus 17.1-21.

Veremos que a espiritualidade que apenas se sustenta na experiência do monte tende a ser efêmera, transitória, passageira. Por outro lado, a espiritualidade que nega a experiência da verdadeira transcendência, do encontro real com Deus, tende a se tornar uma pseudo-espiritualidade. Pois não há ninguém, nem prática religiosa alguma que possa produzir experiências consistentes se Deus mesmo não estiver inserido nelas.

Da verdadeira espiritualidade nasce a trans-formação. Da falsa espiritualidade nasce a deformação, muito bem traduzida pelo misticismo moderno.

O CONVITE PARA O MONTE

Seis dias depois de ter tido uma conversa de impacto teológico profundo
com os seus discípulos, Jesus convidou três deles (Pedro, Tiago e João) para subirem o monte.

O monte é local de solidão, mas também é local de aproximação de Deus. No monte, Moisés e Elias receberam a revelação de Deus (Ex 19.3,20; 34.4; 1Rs 19.8); O mais importante sermão que a humanidade já ouviu, recebeu o nome de “sermão do monte”; inúmeras vezes Jesus subiu o monte para orar. Contudo, mais do que um lugar geográfico, o monte é uma experiência de transcendência, de encontro com Deus.

Os discípulos de Jesus não sabiam, mas estavam prestes a testemunhar um dos mais extraordinários eventos da história do povo de Deus. O encontro de Jesus com Moisés e Elias, no monte da transfiguração.

Por razões que só a eternidade revelará, Moisés e Elias apareceram para conversar com Jesus. A explicação desse fato é simples: Deus estava dizendo que em Jesus estava se cumprindo toda a lei (representada por Moisés) e os profetas (representados por Elias). Testemunhando tudo aquilo, estavam Pedro, Tiago, João.

Pedro, maravilhado e impetuoso como ele só, quis logo construir três tendas: para Jesus, Moisés e Elias. Mas Jesus não tarda em situá-lo e em situar a espiritualidade. Depois de cumprido o tempo com Moisés e Elias, Jesus chama os discípulos para descerem o monte. A experiência do monte fora válida, mas não permaneceria válida se não pudesse defrontar a realidade.

POR QUE JESUS NÃO QUIS FICAR NO MONTE?

Acredito que Jesus não aceitou a proposta de Pedro por que não queria que a espiritualidade dos discípulos se baseasse naquilo que o Ed René Kivitz chamou de “conforto produzido por uma fé mágica”, ou, no que o Leonardo Boff chamou de “pseudotranscendência” ou “falsa espiritualidade”. Por isso Jesus os chamou para descer o monte e revisitar o vale. Pois toda espiritualidade que não consegue fazer um link entre o sobrenatural e o natural, o transcendente e o imanente, o sagrado e o humano não passa de falsa espiritualidade.

APLICAÇÃO

Estou de acordo com o Ed René Kivitz, sobretudo quando declara que “a espiritualidade contemporânea reserva muitos lugares para crédulos que acreditam no conforto produzido por uma fé mágica. É fita do Bonfim e despacho, dízimos e correntes de fé, benzimentos e passes, jejuns e vigílias, novenas e procissões para tudo que é lado”.

Por que esse tipo de espiritualidade é falso? Porque “está centrado no indivíduo e seu desconforto, e tudo quanto espera lograr do contato com a divindade, qualquer que seja ela” (Kivitz, 2003).

A falsa espiritualidade, essa que superenfatiza o monte e ignora o vale com suas mazelas e contradições, traz em si sérios riscos à sanidade do indivíduo.

Para o Leonardo Boff, a falsa espiritualidade pode ser comparada à experiência das drogas. “O problema da droga”, diz Boff, “não é a viagem, é a volta da viagem, quando então não se suporta mais o cotidiano”.

Infelizmente é assim que têm funcionado muitos cultos religiosos, como drogas injetadas na alma e na mente das pessoas. As pessoas chegam a entrar em êxtase, não se contém ante a possibilidade de estar face a face com Deus... por isso choram, gritam, fazem coro... pedem a Deus para aquele momento nunca acabar... querem ficar “na presença de Deus”.

No entanto, o culto precisar chegar ao final e essas pessoas precisam voltar para a realidade, precisam voltar ao vale. Descer o monte. Nesse caminho de volta, muitos não sabem o que fazer. Alguns até chegam a brigar com Deus: “Como o Senhor foi capaz de permitir que isso acontecesse comigo? Eu não estava agora a pouco em tua presença?”.
O problema é a volta!

PARA SABER SE A EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL FOI BOA...

“... basta verificar o efeito que traz sobre o indivíduo: ela potencializa o ser humano ou o diminui? Em que medida essa experiência capacita o ser humano e o qualifica a enfrentar o cotidiano? (...) Uma espiritualidade que funciona como válvula de escape, manipulação mágica da realidade e desculpa para a transferência de responsabilidade não pode ser considerada caminho para a felicidade, apenas rota de fuga e de alienação, que resulta em escravidão” (Kivitz, 2003, p. 31).

PERGUNTAS DE APLICAÇÃO

1. Que tipo de experiência espiritual a sua igreja tem proporcionado a você?
2. Sempre que você vem/vai ao culto o que você espera que aconteça?
3. Ao término do culto como fica a sua relação com o mundo real?